Charlotte, Emily e Anne Brontë, três mulheres, de uma única família, que ficaram famosas por suas obras literárias. Esse fato por si só já seria digno de muito louvor, ainda mais no contexto em que se encontravam.
Em uma sociedade com rígidos princípios moralistas, em que a mulher era vista como um ser frágil, prudente e fútil, algumas, vitimas de agressões por seus cônjuges ou vindas do campo, tendo que, por falta oportunidade de trabalho, se prostituírem para garantirem o seu sustento, mesma época em que surgiu um dos mais marcantes (e nunca identificado) assassinos, Jack, o Estripador. Quem apostaria que essas meninas se tornariam grandes escritoras e reverenciadas até os dias atuais, tendo até mesmo obras consideradas clássicos mundiais?
Em agosto de 1824, Charlotte e as suas irmãs Emily, Maria e Elizabeth (as duas últimas sendo anônimas e irmãs mais velhas), foram enviadas para a escola em Cowan Bridge, Lancashire. Charlotte sempre afirmou que as fracas condições da escola, que incluiam castigos e má alimentação, afetaram permanentemente a sua saúde e desenvolvimento e apressaram a morte das suas irmãs, Maria (nascida em 1814) e Elizabeth (nascida em 1815), que morreram de tuberculose em junho de 1825. Pouco depois da morte das suas irmãs, o seu pai retirou as filhas restantes da escola.
De regresso a casa, Charlotte passou a ser "uma amiga maternal e guardiã das suas irmãs mais novas". Juntamente com os seus irmãos ainda vivos, Patrick Branwell, Emily e Anne, Charlotte começou a escrever sobre as vidas e lutas dos habitantes dos seus reinos imaginários. Charlotte e Branwell começaram a escrever histórias byronianas sobre um país que tinham invantado chamado Angria, ao mesmo tempo que Emily e Anne começaram a escrever artigos e poemas sobre Gondal, o país que também tinham inventado. As sagas (parte das quais ainda existe nos dias de hoje em forma de manuscrito) eram elaboradas e rebuscadas e instigou-as desde a infância e adolescência com um interesse quase obsessivo que as preparou para a sua vocação literária durante a idade adulta.
Charlotte foi a primeira a ter uma publicação, Jane Eyre, sob o pseudônimo de Currer Bell, atingindo grande sucesso. Em sequencia surgiram as publicações de Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes, em português), sob o pseudônimo Ellis Bell (Emily) e The Tenant of Wildfell Hall, de Acton Bell (Anne). Charlotte escreveu mais tarde sobre a razão pela qual tinham escolhido não revelar os seus nomes:
"Não gostávamos da ideia de chamar a atenção, por isso escondemos os nossos nomes por detrás dos de Currer, Ellis e Acton Bell. A escolha ambígua foi ditada por uma espécie de escrúpulo criterioso segundo o qual assumimos nomes cristãos, claramente masculinos, já que que não gostamos de nos declarar mulheres, uma vez que naquela altura suspeitávamos que a nossa maneira de escrever e o nosso pensamento não eram aqueles que se podem considerar 'femininos'. Tínhamos a vaga impressão de que as escritoras são por vezes olhadas com preconceito e tínhamos reparado como os críticos por vezes as castigam com a arma da personalidade e as recompensam com lisonjas que, na verdade, não são elogios."
O romance de Charlotte obteve um sucesso imediato, mas os livros das irmãs passaram quase despercebidos. O romance de Emily (O Morro dos Ventos Uivantes) foi mal acolhido pela crítica, que condenava a sua dureza e a brutalidade das personagens. No entanto, com o tempo acabou por se impor como uma obra significativa da literatura inglesa, o que tem sido confirmado por sucessivas traduções e reedições.
Emily e Anne morreram quase a seguir (1848 e 1849, respectivamente). De Anne saiu ainda uma segunda obra, Agnes Grey (1848). Charlotte sobreviveu por algum tempo depois do falecimento de suas irmãs e pode ainda publicar dois outros romances (Shirley, em 1849, e Vilette, em 1853). Acabou por falecer, vítima da tuberculose, como os irmãos, por volta de 1855.
Recentemente foi descoberto em Bruxelas – e divulgado pelo London Review of Books - um conto inédito de Charlottë Bronte, intitulado L’Ingratitude (A ingratidão). O trabalho data de 1842, quando Charlotte tinha, então, 26 anos. O mais curioso de tudo é que o conto nada mais é do que uma lição de casa de francês (vem daí os erros de gramática e ortografia) entregue à seu antigo professor, Constantin Heger – que era casado – pelo qual, dizem, Charlotte foi apaixonada! Inclusive, ela chegou a se corresponder com ele, mas, as cartas nunca foram encontradas e, tampouco, seu “amor” foi retribuído. O conto pode ser lido na íntegra, em francês ou inglês, aqui.

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